‘Disse para eu ficar colado nele, pois se a polícia atirasse, atingiria os dois’, diz refém em sequestro na Rodoviária do Rio
Justiça ouviu 4 testemunhas do processo do sequestrador da Rodoviária. Petroleiro, que ficou quase 2 meses internado, foi atingido por disparos na clavícula, na altura do coração e próximo ao baço. Réu optou por ficar em silêncio.
Cinco meses após o sequestro com 16 reféns de um ônibus na Rodoviária do Rio, a Justiça do RJ ouviu nesta segunda-feira (19) 4 pessoas em uma sessão do julgamento de Paulo Sérgio de Lima, de 29 anos.
Entre as testemunhas estava o petroleiro Bruno Lima da Costa, de 34 anos, baleado três vezes no tórax e no abdômen, e Ariane Ribeiro Amorim, de 40, que contou como foi ameaçada pelo sequestrador.
“Ele disse para eu ficar com o corpo colado ao dele, pois se a polícia atirasse, atingiria os dois”, disse Ariane.
Ao juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4ª Vara Criminal do TJ, as testemunhas relembraram os momentos de pânico dentro do coletivo. Esta foi a segunda e última fase da audiência de instrução e julgamento do processo contra Paulo Sérgio.
O primeiro a prestar depoimento foi Bruno. Apesar de morar em Juiz de Fora (MG), ele preferiu ser ouvido presencialmente. O petroleiro contou que tinha descido do ônibus, após o mesmo apresentar defeito e não conseguir dar a partida.
Em seguida, ele disse que ouviu três disparos e muitos gritos. Bruno contou ainda que ficou em estado de choque e que só percebeu que tinha sido atingido quando viu uma mulher caída, que também tinha sido atingida.
Durante o depoimento, Bruno, a pedido do Ministério Público do Estado (MPRJ), tirou a camisa para mostrar as marcas dos disparos que o atingiram, além das cicatrizes das várias cirurgias que teve que se submeter durante os 54 dias em que ficou internado em dois hospitais do Rio.
Ao juiz, o petroleiro contou que retornou às atividades profissionais somente na última sexta (16).
Vítima lembra que tentou deixar o ônibus
A segunda testemunha a depor, por videoconferência, foi a cientista Ariane . Ela contou que tentou sair do ônibus após ouvir os disparos, mas que o Paulo Sérgio a impediu e a levou para os fundos do ônibus.
Ariane também lembrou que Paulo Sergio a mandou fazer, com o próprio celular, uma chamada de vídeo para o marido dela, para mostrar que ele estava com a refém. Como o marido não atendeu, o sequestrador gravou um áudio e um vídeo para Ariane enviar para o companheiro.
“Depois de muito tempo de negociação ele concordou em se entregar, mas falando, novamente, que eu tinha que ficar com o corpo colado ao dele”, disse Ariane, que também contou que Paulo Sérgio, antes de se entregar, abriu sua bolsa e jogou algo nela. Depois ela soube, pela polícia, que se tratava de um montante em dinheiro.
No final do depoimento, a cientista contou que, atualmente, faz tratamento psicológico e psiquiátrico, além de fazer uso de medicamentos para ansiedade e depressão.
Também por videoconferência, a terceira testemunha a depor foi o escriturário Carlos Felipe Sanglard Torres, de 67, atingido por estilhaços de vidro do ônibus provocados pelos disparos. O homem lembrou dos momentos de terror vividos dentro do ônibus.
Ele foi seguido pela major da PM Alexandra Valéria Vicente da Silva, última a depor. Psicóloga do Bope, ela falou sobre sua atuação, acompanhando a equipe de negociadores que atuaram para a rendição do sequestrador.
Durante o interrogatório de Paulo Sérgio, o sequestrador optou por ficar em silêncio.